Por: Pe. Eugênio João Mezzomo, cp
Texto: Mt 17, 14-21
Motivação: Aumentar minha fé
Jesus, no texto proposto, se espanta e reclama das pessoas, e até mesmo dos discípulos, porque tinham pouca fé. Ter fé como um grão de mostarda, o que seria? Como seria o crescimento de nossa fé? Há muitas mentiras (fake news) e muitas informações que nos confundem. Surgem “igrejas” e catequeses variadas. Mesmo na Igreja Católica temos crenças divergentes. Os meios de comunicação nos querem conquistar sobretudo para captar dinheiro.
Há uma nova compreensão das verdades. O papa Pio XII, na Encíclica DAS (O Sopro do Espírito Santo) falou dos gêneros literários da Bíblia. Gêneros literários são: história, poesia romance etc. Há romances não históricos na Bíblia. Exemplos: Tobias, Judit, Ester, Jonas e outros. Servem para transmitir mensagens, mas, não podem ser lidos “ao pé da letra”. Graças a Deus temos a hierarquia da Igreja, que nos ajuda a discernir. Sem ela, a confusão seria maior. Antes do Vaticano II, havia uma lista de livros proibidos. Quem os lesse era excomungado. Sem saber, li o livro proibido que falava dos “Subterrâneos do Vaticano”. De fato, há arquivos no Vaticano reservados para poucos especialistas, por conterem informações nem sempre verdadeiras. Nossa biblioteca de Curitiba tinha uma sala para os livros proibidos, cujo acesso era limitado a alguns professores. Estas salas ainda existem por outros motivos. Assim, ao escrever minha tese, tive acesso a uma destas salas numa grande biblioteca de Belo Horizonte.
Havia uma comissão bíblica no Vaticano para examinar tudo o que era impresso. Todos os livros deveriam ter uma licença especial: o “Imprimatur” (imprima-se). Os superiores de Ordens e Congregações religiosas deviam dar seu consentimento para seus religiosos imprimirem. A Comissão Vaticana, naquele tempo coordenada por Ratzinger (depois papa Bento XVI) criou alguns problemas para o nosso Leonardo Boff, por causa do livro “Igreja, Carisma e Poder”. Ele se retirou porque estava proibido de lecionar nos seminários católicos. Crer era mais aceitar verdades como tais do que viver o Evangelho. Um ladrão seria católico porque aceitava as verdades, apesar de sua vida desregrada. Mais tarde, KarL Rahner nos diz que alguém que nem sequer conheça as doutrinas católicas, mas vive adequadamente, seria considerado um cristão anônimo, sem mesmo conhecer as verdades. O papa Francisco é inovador e está mudando.
O que então seria ter fé? Para mim ela é simbolizada no casamento. O rapaz tem a coragem de dizer sim e aceitar a mulher como sua esposa e parte com ela para uma vida diferente, para uma vida de casados. A moça, com a mesma coragem, se entrega. E os dois serão uma só carne. Assim, a fé é união com Deus de corpo e alma para uma vida nova em Cristo Jesus. Nós nos incorporamos em Jesus num “casamento de amor” e numa vida de união.
Os discípulos de Jesus se deixaram levar por Ele, disseram sim (como aquele que está casando) e formaram uma nova família com Ele e deixaram seus bens e até a sua família humana para formar uma nova família com Jesus. O amor nos dá força para essa entrega na fé.
Tomás de Aquino define a fé assim: “O ato do intelecto que assente à verdade divina, sob a influência da vontade movida por Deus mediante a graça”. Definição muito intelectual e racional, mais aristotélica do que evangélica. Em grego fé (pistis) significa ser firme e sólido e, portanto, fiel. Significa firmeza no verdadeiro digno de fé e seguro. Confessa-se que a coisa proposta é genuína e de confiança. A pessoa tem segurança na fidelidade de Deus.
Elogia-se a fé de Abraão, que acreditou contra toda a esperança. E, conforme Paulo, a fé lhe foi computada como justiça. Pela fé temos segurança na caminhada. Não é um conhecimento especulativo, mas experiência. É também aceitar e obedecer. Aceitamos Deus e suas exigências. Para Rm 10, a fé vem pela pregação e implica ser crucificado e ressuscitado com Cristo, ainda que Paulo algumas vezes contraponha fé e lei. Deve-se, porém crer com o coração, não só com a boca (Rm 10.9).
O cristão caminha pela fé e não pela visão (2Cor 10,15). É viver com Cristo e seu jeito de ser. A fé vem de Deus não do mundo. Vem da graça e não é apenas fruto de esforços. Tiago liga a fé a obras (Tiago 2, 14-20). Para ele, a fé vem ligada à esperança e à caridade, que se traduzem em boas obras. Na Bíblia, há sinais da fé até pelo martírio. Os milagres de Jesus estão muitas vezes ligados à fé. “Seja feito segundo à tua fé” (Mt 8, 13 e 8,19). Com frequência Cristo reclama da falta de fé: Se tivéssemos fé “transportaríamos montanhas…”
A minha existência pessoal inspirada na fé deve ser fundada na história de Deus e não vice-versa. Não posso encontrar Jesus, se não existe em mim a vontade sincera de O encontrar. Em toda a existência há profundidades que se revelam unicamente aos amigos. Somente o amigo conhece o coração do outro. Jesus revelou-se aos íntimos… O conhecimento mais profundo de Deus só se dá a partir da intimidade, sem entender tudo intelectualmente.
Na Palestina, excitada pela espera apocalítica, Jesus desencadeou o REINO DE DEUS. As pessoas da época esperavam outra coisa. Jesus não era nem rei, nem sacerdote, nem escriba, mas propunha uma nova existência verdadeiramente fraterna, com um novo relacionamento com o Pai e com os outros. Isso incomodou os que retinham ou viviam em situações vantajosas e estranhavam uma nova forma de viver e pensar na fraternidade.
Jesus pensava na “revolução” de um Deus que veio habitar no meio dos homens, próximo dos pobres e garantir justiça e paz. Isso abalou as estruturas e levou Cristo à morte de cruz. A fé não é simplesmente uma análise política, mas um olhar lúcido sobre a vida econômica, social e cultural. A fé espera que termine a diferença entre ricos e pobres, elites e marginalizados. A justiça de Deus não se realiza enquanto houver exploração do homem pelo homem.
Olhando para a nossa vida pessoal, que faremos para que a nossa fé cresça e transborde em conversão e transformação? Como a fé é uma graça, cabe-nos pedir a Deus com humildade. Olhando para o mundo que nos rodeia, parece que a fé está em decadência. As Igrejas estão esvaziando e as pessoas parecem ter perdido sua fé.
PERGUNTAS:
1- Como você mostra a sua fé?
2- Sua caminhada é orientada por Deus ou por seus interesses.
3- Quais as montanhas que você já transportou através de sua fé?