Por: Pe. Ademir Guedes Azevedo, cp
O evangelho de João narra a presença de um grupo de gregos a procura de Jesus. O texto diz que eles queriam ver a Jesus (cf. Jo 12,21). Dois aspectos são importantes aqui: o primeiro é a busca movida pela curiosidade racional. A filosofia grega insiste no ato de conhecer a coisa em si através da razão. No mundo antigo, a racionalidade grega era uma das formas mais sublimes para a contemplação do Ser. A razão funciona como uma ponte de acesso entre o nosso mundo sensível e aquele outro mundo inteligível. O segundo aspecto é o resultado desta busca racional: a razão é tão poderosa que não pode falhar, ou seja, a verdade que dela emana gera algo grandioso. Para termos uma ideia: a civilização ocidental foi sustentada por este projeto intelectual. Veja-se, por exemplo, que ele fez surgir grandes obras arquitetônicas, estruturas de segurança as mais sofisticadas possíveis e, com o alvorecer da modernidade, inúmeras tecnologias que facilitaram a vida humana. Em outras palavras: a curiosidade racional do espírito grego garante o surgimento imediato de resultados eficientes.
Mas esta mentalidade se confronta com uma outra totalmente diferente: se trata daquela que Jesus revelou com a sua vida. O evangelho de João a apresenta de imediato já nas primeiras palavras que Jesus dirige aos gregos: «se o grão de trigo, caído na terra, não morrer, fica só; se morrer, produz muito fruto» (Jo 12,24). Esta mentalidade é a base da ação de Jesus. Ele a viveu em tudo. Primeiramente, no ato de sua encarnação: abandono de todo poder e eficiência humana; em sua vida pública: fez-se peregrino sem contar com o apoio nem da política nem da religião de então. Ele era um homem que não tinha nem mesmo onde reclinar a cabeça. E, por fim: a lógica do grão de trigo que cai por terra e morre encontra o seu sentido na cruz. Lá um corpo que viveu em relação com os mais frágeis, torna-se um fruto de vida universal. Como será que ficou a cabeça dos gregos quando Jesus se apresentou a eles como sendo este grão de trigo?
Este impacto é justamente a chave hermenêutica para interpretar a vida religiosa, pois ela surgiu com o objetivo de retomar esta lógica do evangelho que Jesus viveu. Ela, desde as suas origens, convidava a Igreja toda a viver em estado de reforma, o que corresponde a ideia de conversão ensinada por Jesus. A credibilidade da vida religiosa não estava em seguir o fluxo da moda eclesial, mas em interrompê-lo com a sua forma de vida marcada pelos votos. Para sermos mais claros e para usarmos a cena bíblica do encontro de Jesus com os gregos: a vida religiosa na sua origem sustentava-se ao mastro da bandeira de Jesus (sem orgulho, sem soberba, sem arrogância, sem projetos pessoais, sem pretensões de grandezas humanas), enquanto o caminho que a Igreja estava assumindo parecia ser aquele da via da eficiência racional dos gregos (grandeza, confiança nos próprios méritos, projetos pessoais ao centro). É neste contexto que os grandes fundadores emergem como os novos grãos de trigo, dispostos a caírem por terra e darem a vida por Jesus e sua causa.
Por que é tão importante refletir isso no momento histórico em que vivemos? Porque parece que estamos tomados pela tendência da lógica grega da razão eficaz. Nossos carismas estão vivendo um inverno, marcado por desistências, mortes, mau-humor, cansaço; um verdadeiro Alzheimer acerca das nossas origens evangélicas. É muita preocupação em salvar as estruturas, organizar as economias, montar nossas tendas em lugares confortáveis onde é possível viver os projetos pessoais. É muito planejamento, assessorias, reuniões, chamadas telefônicas, questionários para responder, debates de ordem jurídica administrativa. Muita busca por eficácia. O espírito de grandeza dos gregos continua presente nos carismas. Mas a questão é outra: Onde está o Espírito de Jesus? A conversão que ele ensinou como processo, a sua lógica de não salvar a si próprio, o seu espírito profético e, o mais revolucionário: onde está o espírito de liberdade do evangelho que possuíam os nossos fundadores? Onde está aquela fé de Abraão que, por amor a Deus, estava disposto a sacrificar o próprio filho, o seu maior tesouro? Será que a vida religiosa está numa fase de transição para ser mais evangélica ou está caindo na armadilha de viver contentada com o status quo deste mundo? Vamos observar e rezar mais os sinais dos tempos e quem sabe a gente retira essa pedra grega dos nossos sapatos. A propósito: muitos fundadores não gostavam de usar sapatos.
Feliz Páscoa! Que neste ano eu e você alcancemos a graça de amar mais o Ressuscitado e assumir o seu projeto, aquele que floresceu no terreno da cruz.