P. Eugênio Mezzomo, CP
Texto: Lc 10, 13-14.
Objetivo: Perceber como Deus age e se manifesta hoje.
O que me leva a escrever este texto é a transferência de minha pessoa para Curitiba, para a nossa agora entendida casa dos velhos. Senti-me como alguém que é colocado na antecâmara ou porta do cemitério. Passei dos 80 anos e o que me espera agora é morrer jogado no meio dos velhos. O que que Deus quer de mim nestes últimos dias de minha vida? Como é que Deus se manifesta para mim e quais são suas ações, sinais e prodígios na minha vida. Deus faz ainda alguma coisa por mim? O que Ele me diz e espera de mim neste momento da vida?
O que Jesus responde aos embaixadores de João Batista é: “Os cegos recuperam a vista e os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem e os pobres são evangelizados” (Lc 11, 19-20). Era tudo para João entender a presença de Deus. No meio dessa pandemia da Covid, parece que as palavras de Jesus não funcionam. Morreu muita gente e eu fiquei escondido no convento para não ser infectado. Como é que muitas pessoas estão doentes, morrem e passam fome? Estou realmente apavorado. Será que ação de Deus ainda continua nos dias de hoje? Porque devo envelhecer e me tornar inútil para as atividades que tive a alegria de desenvolver durante a minha vida.
O evangelista João fala muito em sinais no plural (semeia). Não usa a palavra milagres. Mas fez sinais para que nós acreditássemos e crendo tivéssemos a vida eterna. E ele diz que fez muitos outros sinais, que não foram escritos por João, seriam tantos, que, se fossem escritos não caberiam sobre escritos sobre a terra.
Como agora tenho muito tempo para ler e rezar, procuro, no silêncio de minha contemplação no me quarto, buscar com toda a sinceridade e perceber o que Deus estaria realmente fazendo na minha vida. Deus certamente espera minha perseverança na fé, o que nem sempre é fácil ou evidente. E Ele tem me conservado essa fé até agora, apesar de todas as lutas e dificuldades. E, como disse acima, João nos diz que crendo é que teremos a vida eterna. Meu apostolado é mostrar alegria no meio da fraqueza e da luta para viver. Ele espera que meu testemunho de fé supere o povo de Tiro e Sidon. Ele me chama a ser profeta e me dá forças para que esse testemunho anime os meus irmãos. Não me endurece o coração como fez com o Faraó do Egito por ocasião do êxodo dos israelitas.
Releia agora o texto proposto. Jesus recomenda que não sejamos tão duros de coração como Tiro e Sidon. Abramos o coração para os sinais. Na Bíblia se fala muito em ações de Deus em nós. A criação do mundo e tudo o que nele existe seria ação de Deus. Deus intervém com muita frequência na história e na história de Israel. Uma grande leitura feita dos sinais pelos judeus foi o exílio da Babilônia. Esta crise foi gerada pela perda das principais referências que davam ao povo de Deus uma identidade e seu conceito de Deus. Estas referências eram: terra, rei, Lei, o templo de Jerusalém. Estas referências que davam ao povo a certeza da presença de Deus no meio dele foram perdidas. O povo agora é escravo. O templo não é mais a morada de Deus, que, segundo Ezequiel, teria alçado voo e ido para a Babilônia. Como é que Javé não foi capaz de salvar seu povo? As lamentações de Jeremias são um espanto.
Mas, os judeus exilados foram capazes de ler os sinais e reformular sua ideia de Deus e do povo de Israel. Souberam ler os sinais. Pelo menos em bom número, foi capaz de retornar à sua terra e, reunido ao redor da Palavra, releu a história passada e reformulou as ideias e reconstruiu a vida de acordo com a leitura que foi capaz de fazer a partir dos sinais e prodígios de Deus. Ezequiel pregou que Deus está onde está reunido o seu povo. Deus está ligado ao povo e não mais à terra ou ao templo. Ele pede ao povo que seja capaz de “ler os sinais” de Deus na nova situação. O segundo Isaías (Is 40-55), soube mostrar um novo REINO DE DEUS e um novo EVANGELHO. Na verdade, a palavra Javé significa que Deus está ou é com o povo. E, na Missa, dizemos: “Ele está no meio de nós. Ele habita em nós e se faz um de nós.
Jesus, nos Evangelhos, fala em sinais, como o sinal de Jonas e muitos outros, para nos fazer perceber a presença de Deus Nele e em todas as coisas. É possível encontrar sentido nos sinais e símbolos. É possível encontrar Deus e um sentido para a vida. O próprio Jesus leu os sinais de seu tempo. Ao formular seu Evangelho do Reino, buscou, por exemplo, falar da queda dos muros de Jerusalém, como pregara o revolucionário Egípcio (Lc, 21-24). Prega o Reino de Deus e a conversão como João Batista (Mc1,15). A libertação dos males e da opressão como o profeta anônimo de Mc 10,28-31). Ele pregou lendo a realidade e os sinais de seu tempo.
Tenho me esforçado para fazer isso na minha idade e situação. E Deus, penso eu, deu sentido para a minha vida. O papa Francisco, em sua carta de 29 de junho de 2022, fala da capacidade de ler os símbolos e sinais presentes na liturgia, sobretudo na Eucaristia. E os sinais de nossos tempos, observando a realidade do mundo.
Uma grande descoberta que me foi dada, na minha situação de velhice, é que nós dependemos muitíssimo dos outros. E isso mesmo desde o nascimento. Dependemos da mãe, dos colegas, dos agricultores. Somos dependentes e precisamos muito dos outros. E será muito bom se sentirmos que isto é também uma descoberta que dependemos de Deus e de sua graça para viver.
Dependemos também do sol, da água e da comida e claramente somos mundo com o mundo. Somos fruto do mundo e de Deus. Precisamos do oxigênio e de um pulmão para respirar. Dependemos de Deus para ter vida e encontrar sentido nela. E, podemos dizer e experimentar, que precisamos de Deus e de sua graça. E sobretudo serão felizes aqueles que descobrem que Deus é AMOR (ver 1jo 4). O amor não se enxergue, mas sabemos que existe e até o experimentamos. Assim também a vida. Não se enxerga, mas a temos. Deus é nossa vida e, no amor que temos, habita em nós.
Perguntas:
Você vem descobrindo como Deus se comunica com você?
Quais são as ações de Deus que você percebeu na sua oração e vida?
Que problemas alteraram seu modo de pensar e viver?