Pe. Eugênio João Mezzomo, cp
Texto: 1Sm 3-10.19
Motivação: Descobrir a vontade de Deus e seu projeto.
Tenho recebido pedidos de oração para ver “se Deus muda de opinião” e faz a vontade da pessoa que pede. Notamos que o individualismo está crescendo em todo o mundo e até mesmo dentro da querida Congregação Passionista. Cada vez mais pensamos sobre nossa própria pessoa, nosso celular e boa vida. A vida comunitária está em decadência. Quando Jesus convidou os apóstolos, alguns deles abandonaram tudo e passaram a formar UMA NOVA FAMÍLIA com Jesus, uma comunidade. A Igreja primitiva abraçou a vida comunitária. Em Atos (At 2 e 4) se diz que “os cristãos tinham tudo em comum, dividiam seus bens com alegria e entre eles não havia necessitados”. Uma verdadeira família onde o chefe era Deus. Era Cristo quem conduzia a nova família. Houve fracassos. Assim em At 5, 1-11, Ananias e Safira enganam e mentem na entrega de seus bens para a comunidade. Mas houve heróis em Cristo, que abandonaram tudo e abraçaram o projeto de Jesus. Houve até mártires.
No Pai nosso pedimos: “Seja feita a vossa vontade assim na terra como no céu.” E Deus não muda de opinião. Somos nós que devemos mudar a nossa e o nosso modo de agir. Não adianta ir a santuários ou fazer grandes ofertas, se não construímos comunidades. Deus já sabe o que precisamos e o que somos. Rezar não será tanto explicar para Deus. Será ouvir o que Ele quer. Ele quer sempre o melhor para nós. Quer o nosso bem e a nossa realização como criaturas humanas. Ele já sabe o que será melhor para nós. Rezar, portanto, é tentar descobrir o que Ele quer e acolher sua vontade. E Deus não muda de ideia.
Na Missa do, dia 14 de janeiro de 2024, lemos Samuel. Ele estava na mesma casa de Eli. Samuel foi chamado 3 vezes pelo nome. Ele se levantou e correu até Eli. Na terceira vez, Eli o orientou dizendo: Quando você ouvir a voz chamando, responda: “Fala Senhor, que teu servo escuta”. Samuel tratou de acolher a Palavra que gritava no fundo de seu coração e ele seguiu o projeto de Deus como profeta e escolheu os reis Saul e Davi. Três vezes Deus teria chamado Samuel. O número 3 significa o superlativo, que não existe na língua hebraica. Deus chamou Samuel, para que se deixasse seduzir pela vontade Dele para o bem e a felicidade do povo.
Samuel vai dizer a Saul (1Sm 15, 22): “Iahveh não se compraz com holocaustos e sacrifícios, mas com a obediência à palavra de Iahveh. Sim, a obediência é melhor do que os sacrifícios…” Importa, portanto, saber escutar Deus que se manifesta de muitas maneiras. Pode fazer arder o fundo de nosso coração, ou falar pelos acontecimentos familiares ou mundiais, através da natureza e dos problemas que nos rodeiam. Rezar é então ouvir a Deus e seu projeto.
Ao ler a Bíblia Sagrada, procuramos captar a vontade de Deus, procuramos os pensamentos divinos sobre nós. Buscamos o que Ele tem a dizer para nós. Esperamos que Ele nos aponte o caminho. Não queremos forçar a Deus para que mude. Procuramos o pensamento e a palavra Dele, que flui da Bíblia e dos acontecimentos, tanto no que se refere a nós mesmos como no que se refere ao nosso futuro e o futuro do mundo.
Procuramos a origem do universo não tanto para satisfazer curiosidades, mas, para entrar em contato com o Criador, que sabe muito bem por que nos criou e do que precisamos. Buscamos a causa das causas, como nos ensinou Aristóteles. Não esperamos entender tudo, porque não chegaremos a isso nem ficamos puramente nos sentidos externos, mas,” mergulhamos no mar imenso do amor de Deus” nos fala São Paulo da Cruz.
Lemos o Evangelho não como BOA NOTÍCIA para nós, porque não descobrimos quem está atrás da Palavra e não conversamos com Aquele que fala a Palavra. Buscamos mais “milagres” e intervenções, não o projeto do autor das Palavras. Não temos uma visão cristã de nós mesmos e do mundo. Jesus nos mostra que fazer a vontade do Pai é o alimento Dele. Ele diz ser a “luz do mundo”, isto é, o jeito de ver e viver a verdade e endireitar o mundo.
Até Maria entrou na dança da vontade do Pai: “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a vossa palavra”. Ouvi um sermão sobre Maria, onde o pregador dizia que devemos pedir à Mãe, que o filho faz o que ela pede, como teria acontecido em Caná (Jo 2). Não é verdade. Maria quer a vontade de Deus e Cristo oferece o vinho que ela aponta como necessidade, porque esta é a vontade do Pai. Jesus só faz a vontade do Pai. Talvez Ele fosse parente dos esposos e por isso providenciou o vinho para quem o convidou. José também “ouve em sonho” e se prontifica a fazer a vontade de Deus e recebe o menino Jesus.
Podemos ter os nossos desejos e pedir, como Cristo fez no Horto das Oliveiras: “Pai, se for possível, que se afaste de mim este cálice, mas NÃO SE FAÇA A MINHA VONTADE MAS SIM A TUA. Saber pedir é ter esperanças, como Bento XVI nos fala na encíclica “Salvos pela Esperança” (Spe Salvi). Ele mostra como devemos desejar e querer. Quem nada espera ou deseja nada procura e nada faz. Devemos buscar o melhor para nós, que sempre será a vontade de Deus. Pedir, portanto, é ativar nossos desejos e achar coragem para continuar nossa entrega total à vontade de Deus.
No catecismo da primeira Comunhão, que recebi aos 6 anos de idade, se ensinava: Ser cristão é: Conhecer, amar e servir a Deus nesse mundo para gozá-lo no outro”. Decorei isso em português, apesar de que minha língua fosse o italiano. Rezar nos dá força para agir e nos torna livres. É deixar o Espírito Santo e a graça agirem em nós. Mas, o importante é escutar, não falar. Jeremias se sente até seduzido pela Palavra de Deus (Jer 1) e se põe a Seu serviço com grandes dificuldades e perseguições.
Em Jo 1, André e o companheiro perguntam a Jesus: Onde você mora? Ele responde: “Venham e vejam. E se deixaram levar por Jesus, tornando-se apóstolos em união com Ele. O cego de Jericó grita atrás de Jesus. Este lhe pergunta: “O que queres”. Ele responde; “Que eu veja”. Essa era vontade de Deus e de Jesus, isto é, curar o cego para enxergasse a verdade e, de fato, o cego largou a capa e seguiu Jesus. Rezar, é, portanto, também desejar, gritar e querer como o cego. Gritemos, mas, ouçamos. SABER OUVIR.
PERGUNTAS:
1- Na oração você busca a vontade de Deus ou apenas a sua?
2- Quais são seus desejos mais profundos?
3- Qual o motivo que o leva a viver sua religião?