Por Pe. Ademir Guedes Azevedo, cp
Enquanto exercia meu ministério de confessor nesta tarde de quarta-feira santa, recebi a triste notícia da morte de meu amado formador, Pe. Meneghetti. Impactado e tomado por um espanto, entrei no profundo de meu coração e, como todo filho, me veio espontaneamente aos meus lábios esta oração pessoal: «Senhor, ele é teu. Recebe-o, pois é o que temos de mais precioso: é a vida de um consagrado que te devolvemos!»
As lembranças são incontáveis e a gratidão é eterna. Era o ano de 2011 por ocasião da primeira avaliação de meu noviciado. Ele chegou cheio de energia, trazendo a alegria radiante de um verdadeiro passionista: aquele sentimento de pertença, de que vale a pena fazer parte de uma família religiosa, marcada pela ação de homens frágeis, mas acostumados a fazer as travessias de Páscoa. Assim, ele já provocava a nutrir a fidelidade ao chamado, daquela história que cada um começou lá no início de nosso primeiro amor vocacional. Retornar as nossas origens missionárias para não se perder no secundário: eis o testemunho impresso naqueles dias de avaliação de noviciado.
Mas esta história se prolongou por mais 4 anos, pois logo após a minha primeira profissão religiosa fui a Cascavel já sabendo que o teria como meu formador. Como resumir aqueles anos tão decisivos para mim? Arrisco numa palavra: Compaixão. O programa de vida dele era: servir a vida na compaixão. No início, eu pensava que era só um slogan ou uma simples frase de efeito. Mas eu logo me dei conta que estava enganado, pois Pe. Meneghetti na verdade era uma parábola da compaixão que se fazia transmitir a cada dia, não com palavras, mas com a narração da própria vida. Para fazer isso, Deus lhe deu o dom de tornar-se um mistagogo, um homem acostumado a viver do Mistério e comunicá-lo com a vida.
Conservando a pureza de coração, enxergava os dons e as qualidades, provocando a desenvolvê-los. Com ele, aprendi que servir a vida na compaixão significa cavar no mais profundo de nós mesmos para encontrar o melhor e oferecê-lo ao próximo, sobretudo aos mais frágeis. Ele fazia um treino diário: diante da humanidade frágil de cada um de nós e da dele, ele via o positivo e, com seu bom-humor, já fazia suas profecias acerca do que cada um de nós iria colaborar com a congregação depois da ordenação. Passados já 12 anos daquele início de caminho, dou testemunho do cumprimento de suas profecias. Ele foi um jardineiro gentil e sábio, soube cultivar no jardim da congregação nossos dons e hoje nossas vidas desabrocham com bons frutos. Com ele, a comunidade passionista era escola de oração, mas também um laboratório, onde a gente aprendia junto a conviver com as nossas feridas, fazendo delas uma ponte de ligação com as feridas do mundo, pois somos todos curadores feridos.
Precisa desenvolver mais este discurso? Acho difícil, visto que os mistagogos são tão especiais que não se enquadram em esquemas, por isso vou usar aqui uma expressão que ele mesmo fazia questão de pronunciar quando vinha questionado acerca daquilo que ele era. Ele dizia: «eu sou um sobrevivente!». Ele enfrentou desafios e perdas. Viu companheiros fazendo a Páscoa precocemente. Sentia a dor da alma (expressão costumeiramente evocada por ele), quando se deparava com o sofrimento de irmãos e irmãs da caminhada. Sim, ele sobreviveu para nos ver crescer. Ele lutou, igual aqueles pais de família, para educar seus confrades na escola da Paixão de Jesus. Sobreviveu com coragem e dignidade para nos ensinar a Sequela Christi com o testemunho de vida. Foi sim sobrevivente para imprimir sua marca em nossas histórias. Na verdade, ele foi sobrevivente porque tinha uma chama de ágape que ardia dentro dele, o que o fez doar-se sem mesquinhez, mas com abundância.
Uma parábola de compaixão que se narrou na vida de um homem que passou entre nós. Justo nesta semana em que nos preparamos para contemplar aquela vida que não passa e na qual este nosso irmão entrou definitivamente.
Pe. Meneghetti, obrigado! Deus lhe pague pelo testemunhou de vida que nos deixou. Descanse em paz! Amém.