Padre Augusto: um passionista de ternura

Tenho certeza de que cada passionista da nossa congregação tem algo de belo para testemunhar acerca da figura de nosso irmão que hoje recomendamos a infinita misericórdia.

Pe. Augusto, ainda em terna idade, sentiu a força do chamado divino para juntar-se aos passionistas. Decidido a trilhar as pegadas de Jesus, sob o estandarte da cruz, seguiu firme até o último momento. A Paixão de Cristo não só foi a luz que sempre o guiou, mas foi a sua companheira fiel na dor do corpo e da alma nos últimos anos de sua vida. Nós somos testemunhas do quanto ele amou a Cruz de Jesus e a sua Paixão!

Quem é P. Augusto? A resposta espontânea dada por unanimidade pelos religiosos é: ele é um homem bom. Realmente, a forma pela qual o evangelho atuava nele era pela via da bondade. Acrescento ainda: ele era terno. Religioso afetuoso, extremamente sensível e preocupado com os irmãos, se esforçava em encorajar a todos, consolando pelo diálogo e acompanhamento espiritual, optando pelo caminho do discernimento, típico da sabedoria de nossa fé cristã.

Deixo registrado meu testemunho pessoal. Quando fui admitido a fase do propedêutico, ele estava começando seu serviço de provincial. Para ele, a formação dos jovens era o aspecto mais importante, pois dali se podia colher a safra de missionários para anunciar o Mistério Pascal. Ele pensava com cabeça de religioso, pois colocava em primeiro lugar o projeto da Congregação, provocando-nos a abandonar as redes dos nossos empreendimentos pessoais. Ele demonstrava simplicidade, seja no seu modo discreto de ser ou na forma de pensar. Quando lembro das histórias simples que ele gostava de contar para nos animar na vocação, me vem em mente a oração de Jesus: “Eu te louvo ó, pai, Senhor do céu e da terra, porque escondestes estas coisas aos sábios e doutores e as revelaste aos pequeninos” (Mt 11,25).

Nunca esqueci da sua homilia no dia da minha primeira profissão religiosa, emitida na solenidade da epifania de 2012. Ele nos disse o seguinte: “assim como os magos que vieram de longe e ofereceram dons ao menino Deus, hoje vocês também oferecem os votos a Ele como os dons da vossa pequenez. Eles não são materiais, pois estão impressos na alma. Tornem-se também uma oferta diária para aqueles que hoje choram nas manjedouras da história”. Essas palavras me inspiram e iluminam a ser fiel. Soaram como um programa de vida nestes últimos 12 anos de minha vida religiosa.

Sou grato de ter convivido com P. Augusto. Quando ele estava no período de seu calvário e a nossa correspondência era tão limitada, eu geralmente me fazia algumas perguntas que nunca encontrei e talvez morrerei ser obter as respostas, pois me parecem pertencer ao mistério de Deus. Eis algumas: Por que pessoas tão boas morrem de doenças incuráveis? Por que a medicina não encontra um remédio para curar a dor da partida de alguém que amamos? Por que esta vida é tão frágil e pessoas de coração grande vão desaparecendo de modo tão doloroso que acabamos não tendo mais palavras para falar com elas, para não as cansar ainda mais no seu calvário? Por que quando vemos alguém se unindo de modo mais especial a cruz de Jesus, sentimo-nos tão unidos aquela pessoa como se estivéssemos ao seu lado? Por que o calvário necessariamente é a estrada de todos os discípulos de Jesus? Nenhuma teologia ou filosofia podem responder a tais perguntas. Deus é um mistério surpreendente.

Neste momento, a fé traz a certeza de que aqueles que serviram a Deus não serão confundidos nem abandonados. Depois de um longo calvário, que páscoa fez o P. Augusto! Gratidão pelo testemunho e, nós que ficamos, coragem e perseverança para seguir fazendo festa com a cruz, mesmo em meio aos calvários da vida.

Descanso eterno, dai-lhe senhor. Que brilhe para Ele a luz eterna e o resplendor. Descanse em paz. Amém.

P. Ademir Guedes Azevedo, cp.