QUE PROCURAIS?

Por Pe. Eugênio João Mezzomo, cp

Jo 6, 26-31

Motivação: Buscar a maneira certa de viver e ser feliz.

O texto de Jo 1,38 nos diz: “Que procurais?” Os discípulos estavam procurando Jesus e também algo que lhes explicasse a vida. Feliz de quem encontra o modo certo de viver e construir a vida. Muitos se perdem em ilusões e não encontram sentido para viver. O tempo dessa vida não pode ser direcionado apenas ao ilusório. Orígenes, grande escritor da Igreja primitiva, nos fala que muitos se perdem apenas em valorizar o corpo e suas sensações e não conseguem se fixar no espírito ou alma. Contentam-se apenas com as vaidades desse mundo e com as sensações dos sentidos como o tato, o olfato, a vista, o gosto etc. e não “entram” na alma e no espírito. Permanecem nas sensações terrenas e sensíveis.

Sabemos que a formação que recebemos na infância é fundamental. Nossos pais nos passaram valores cultivados por eles e pela família. Fomos marcados e até estuprados pelo modo de agir e de ser de nossos familiares. Por isso, é difícil mudar na caminhada que fazemos durante o nosso crescimento e na educação escolar. Mudar esses valores é difícil e árduo.

Jesus, ao falar da providência de Deus que nos faz viver sem as preocupações de muitos afazeres, nos diz em Lc 12, 31: “Buscai o seu Reino e essas coisas vos serão acrescentadas. Lucas insiste em não se preocupar demasiadamente com roupas, comidas etc. É preciso buscar sobretudo o Reino de Deus e sua JUSTIÇA E O RESTO NOS SERÁ DADO POR ACRÉSCIMO.

Partindo desse princípio, os monges antigos fugiam para o deserto para estar somente ligados à contemplação de Deus e das realidades do espírito. Paulo da Cruz expressa isso no diário no começo de dezembro, onde afirma que o corpo é a prisão da alma. É melhor fugir de tudo a que se refere ao corpo e a esse mundo. Isso pode levar ao desprezo do corpo e das coisas que devem ser cuidadas de modo adequado, mas, orientando tudo pelas coisas espirituais e que garantem um sentido profundo ao ser humano. Não precisamos desprezar o corpo nem o mundo, mas, colocá-lo no devido lugar ao dedicar-nos a Deus.

Grande parte de minha vida eu a dediquei na formação de novos padres ou religiosos. Sempre me perguntei por que a pessoa resolve ser padre ou religioso? Quais os motivos que a levam a ter uma vida tão diferente? No início do noviciado, eu perguntava aos que iniciavam a caminhada na Congregação porque nos procuravam, por que deixavam a família? Deviam contar sua vida familiar e no mundo para depois dizer claramente o que queriam com a vida religiosa. Nem sempre vi muita clareza nessas intenções.

Na verdade, cada pessoa é levada por inclinações, desejos e satisfações. Mesmo na minha família, encontrei pessoas agarradas ao mundo e ao dinheiro.  E houve quem encontrasse na contemplação divina a alegria de viver. Tive duas irmãs freiras. Duas primas legítimas foram superioras gerais de suas congregações religiosas e tiveram uma vida dedicada a Deus . Houve de tudo entre os meus familiares. Nem todos encontraram sentido para viver.

A pessoa que deseja ser padre deve ser levada por motivos que deverão preencher sua vida de um modo especial. Devem ser motivos que privilegiem Deus e sua justiça. Estudando Orígenes, percebemos que ele se agarrou na Bíblia e nos estudos que lhe davam satisfação pessoal e vital. Chegou até a castrar-se para não pensar mais em sexo ou em vida profana. Interessava-lhe a contemplação e o estudo da fé que lhe davam sentido para vida e alegria de viver. Marcou os crentes com uma grande atenção a Deus e à Igreja contra os dualistas hereges e os carnais, os ebionitas e gnósticos.

Viktor Emil Frankl dava muito valor ao que dá sentido para a vida. Sem sentido não há desejos, satisfações e não vale a pena viver. Quais os desejos do jovem que nos procura para ser padre? O que lhe dá satisfação e alegria de viver? Que valor tem o estudo e a oração?

O que me dá satisfação na idade avançada que agora vivo? Deveria ser a leitura e o estudo da Bíblia ou a satisfação numa boa LEITURA ESPIRITUAL. O dinheiro ou outras satisfações deveriam passar para segundo plano, mesmo porque não consigo mais saboreá-los ou satisfazê-los. O mundo não diz mais muita coisa. Para que acumular dinheiro, se a vida está terminando? Preencho meu tempo com boas leituras e a contemplação de Deus na vida pessoal, comunitária, eclesial e social.

Olhando para os nossos jovens que entram no seminário, eu me preocupo em saber o que os leva a esta vida. Seria realmente uma motivação pelo gosto das coisas divinas ou promoção humana em meio às futilidades mundanas buscadas por muitos jovens no dia de hoje? Quais as coisas lhe dão motivo para viver? Quais os valores que explicam sua vida?

Orígenes nos ensinou que as pessoas devem ter gosto pela educação de si mesmo e dedicação aos ideais propostos nos valores evangélicos.  Infelizmente o ambiente atual não favorece o cultivo espiritual e a vida interior e pretende nos ensinar que ser feliz é aderir ao modo de ser do mundo e de seus interesses.

Muitos se ocupam com os assuntos do mundo, dinheiro, benefícios e satisfações mundanas. Segundo 2Cor 3, 15, tais pessoas cobrem o rosto com um véu, como Moisés, para não verem a luz brilhante do rosto ou do brilho das coisas de Deus. Preferem a glória desse mundo e as honras e apreciam as coisas que apagam a presença de Deus e suas ações.

Ao reler o texto que propus (Jo 3, 26.31) você pode perceber que Jesus tinha razão. Muitos O procuravam não por motivos do Reino, mas por causa da comida e dos milagres para satisfazer a vida nesse mundo, que se perde em ilusões. Procure examinar com cuidado as motivações que levam você a viver e encontrar futuro para você e seus companheiros. Examine os motivos que o levam a trabalhar e estudar. Procure descobrir o que lhe dá alegria e sentido para o seu viver. Unifique a sua vida no construir Cristo e o Seu Reino.

Orígenes ainda nos alerta que vivemos uma dualidade. Ele combate os gnósticos que separavam corpo e alma, o Deus do Antigo Testamento e o Deus do Novo Testamento. Combateu o determinismo do agir humano e propôs a unificação da vida em Cristo, pelo agir cristão e pelo conhecimento das coisas de Deus, que devem ser procurados por nós.

PERGUNTAS:

  • Você valoriza mais o carnal ou o espiritual?
  • O que lhe dá mais sentido para viver?
  • No que você ocupa o seu tempo livre?