P. Eugênio Mezzomo, CP
O que leva a escrever este texto é o individualismo que aumentou depois da formação de grandes cidades. Aumentou a ideia de identidade individual e a perda gradual da identidade grupal ou comunitária. Mesmo em nossas comunidades de vida consagrada, percebe-se que cada um toma o seu rumo e perdemos a solidariedade em grupo. Creio que somos chamados a uma abertura maior para alteridade e a preocupação com a unidade tanto afetiva, como organizacional e fraterna.
INDIVÍDUO E COMUNIDADE
Texto: 1Cor 12. Ou 1Cor 12, 22-26.
Objetivo: Superar a cultura pós-urbana e valorizar a comunidade.
O que leva a escrever este texto é o individualismo que aumentou depois da formação de grandes cidades. Aumentou a ideia de identidade individual e a perda gradual da identidade grupal ou comunitária. Mesmo em nossas comunidades de vida consagrada, percebe-se que cada um toma o seu rumo e perdemos a solidariedade em grupo. Creio que somos chamados a uma abertura maior para alteridade e a preocupação com a unidade tanto afetiva, como organizacional e fraterna.
Para 1Jo 4, só conhece a Deus quem tem uma abertura e amor para com os outros. Quem não ama aos outros, não ama a Deus. Abertura para os outros é necessária para uma abertura real com Deus. A cultura urbana de hoje nos leva a um fechamento no próprio EU. Um Eu fechado em si mesmo, autossuficiente e com relacionamentos mais funcionais, que humanos. Muitas vezes isso chega a situações de exclusão social e o descuido com a pobreza e as injustiças.
Não é que o indivíduo deva desaparecer. Precisamos da identidade pessoal, que é necessária para tomar atitudes, escolher e fazer opções. Só em nível pessoal posso me decidir por Cristo e me converter. Chegamos a Deus pelo exercício da liberdade individual. Não devemos nos deixar amassar totalmente pelo grupo. Deve haver liberdade de escolha, o que não acontecia na realidade dos grupos antigos, onde os valores e expectativas eram impostos pelo grupo. Mas não podemos terminar tudo no indivíduo esquecendo os valores do grupo. Deve surgir harmonia entre indivíduo e sociedade. O Reino de Deus exige acompanhar Cristo e uma comunidade.
Em grupos rurais, sem cultura urbana, devemos valorizar a individualidade. Mas nos centros urbanos, devemos nos preocupar com a vida comunitária e com a realidade e o sofrimento dos outros. A ideia do individualismo religioso entrou sobretudo nos grupos de TEOLOGIA DA PROSPERIDADE. Ela centra de tal modo sua ação no indivíduo e faz valer sua eficácia na capacidade de resolver os problemas individuais. Estas pessoas se fixam nos problemas pessoais, minha dor, minhas necessidades, meu milagre. Procuram-se essas igrejas apenas para curas, libertação, milagres. Há pouca partilha de vida, dos problemas e alegrias. Não há compromisso e engajamento. A formação comunitária não é clara. A busca da vontade de Deus, tão valorizada por Paulo da Cruz, não é levada em conta. Deve ser tirada do Pai Nosso a frase: “Seja feita a vossa vontade”.
Releia o texto proposto e tente avaliar seu envolvimento tanto pessoal como comunitário. Não podemos cair simplesmente numa mentalidade que despreze o corpo e pense SÓ NA ALMA, como em alguns místicos antigos. O texto proposto fala positivamente do corpo. Somos um corpo na Igreja. Não deve surgir um dualismo, mas uma integração que leve em conta a realidade espiritual e corporal, para poder conviver nos grupos, como o texto proposto sugere. O corpo tem seu lugar, não o tornando, porém um critério único para viver a vida comunitária. Na antiguidade, desprezava-se o corpo, que devia ser pisoteado e chicoteado. Veja esta ideia em São Paulo da Cruz (Diário, dia 4 de 12 de 1720). O corpo era a cadeia da alma e devia ser escondido. Sobretudo o corpo das mulheres, coberto com inúmeros véus. No tempo de São Pacômio, as primeiras monjas se vestiam com roupas masculinas, pois a mulher era considerada perigosa.
O compromisso grupal é importante, mas não o único. O compromisso social e comunitário não deve esmagar as pessoas, mas a entre ajuda, como nos diz o texto, é importante e necessária. Para Paulo, o ser humano é concebido em base de relações, que levam em conta o individual, o social, o afetivo, o familiar, o ético, o confortante etc. Muitas igrejas pensam mais em produtos religiosos (milagres, curas, exorcismos), mas sem o engajamento pessoal no grupo, na comunidade.
O fundamentalismo religioso pode, pelo contrário, amassar a pessoa e as liberdades até de pensamento. Leva a uma uniformidade exagerada. Devemos evitar os extremos. A pessoa deve ser levada em conta, mesmo quando se pensa na formação de comunidades. No texto de 1Cor 12, as pessoas aderem com liberdade, mas, os dons são para a edificação de todos e estão a serviço de todos. O vers. 13, nos diz que nesse corpo entram também os diferentes: judeus e gregos, escravos e livres, homens e mulheres (Cf Gl 3,28). E cada membro exerce seu papel mesmo sendo diferente e até por ser diferente, pode ajudar o resto do corpo. Estamos para servir o corpo.
Os fracos devem ser tratados com mais carinho e cuidados e os dons estão para servir a todo o corpo aceitando a diferença de cada membro, seja em profecia e até em línguas. Todos os membros devem ser considerados, ajudando mais os que sofrem. A mão não é o pé e é diferente da orelha. As diferenças tornam o corpo mais prestativo e útil.
Por fim proponho que pense em sua comunidade e em seu engajamento nela. Vamos melhorar nossa vida comunitária, que parece estar em decadência em nossas congregações e ordens religiosas.
PEEGUNTAS:
Como está envolvido afetivamente na vida comunitária?
Como compartilha seu tempo e seu dinheiro com os demais?
Você respeita o outros na sua individualidade e diferenças?