Descobrir o ressuscitado no dia a dia  

Por Pe. Eugênio João Mezzomo, cp

Texto: Jo 20, 1-14.

 

O texto que proponho, o encontro com o Ressuscitado se dá numa pescaria. Pedro fala em pescar e muitos aderem a ele e formam um grupo para a pescaria. Era um trabalho frequente à beira do lago da Galileia ou Tiberíades. Mas, os nossos antigos escritores interpretaram a pescaria como pescar pessoas ou fazer apostolado. O grupo nos anima e a companhia de outros nos dá força e coragem. Formamos caravanas para atravessar o deserto da vida. 

Pescar, no modo que se propõe no texto, é o mesmo que atrair pessoas para a barca da Igreja e assim atravessar mar desastroso dessa vida. É evangelizar. Muitas vezes, o trabalho pastoral parece não produzir frutos. Os apóstolos pescaram a noite inteira e nada pegaram. A noite e o escuro são sinal de ausência de Deus e a queda no pecado. Muitas vezes temos a impressão de perder tempo quando desenvolvemos nosso trabalho pastoral. O fracasso parece fazer parte de nossa vida com certa frequência. Mas, Jesus espera que não desanimemos e lancemos de novo nossas redes.  É preciso pescar e atrair todos a Jesus.  

O raiar do dia e do sol é vida e Ressurreição. Os apóstolos descobrem Jesus à beira do lago ao amanhecer do dia. A noite seria então a ausência de Jesus e o escuro da falta de fé. Quando Jesus morreu no Calvário houve trevas e escuridão. O amanhecer é um símbolo bonito quando Madalena e outras mulheres vão ao tumulo. O amanhecer da fé ilumina a vida e nossos dias. Jesus está vivo e vive em nós. 

Jesus pede peixes, quando os discípulos descem da barca.  Pede o fruto de nosso trabalho e espera que colaboremos com os nossos peixes, conforme seu mandato. Mas, os apóstolos não sabem que é Jesus, que está à beira do lago ao amanhecer. O discípulo amado, porém, tem os olhos do amor no coração e percebe que é Jesus. Quem ama muito, descobre coisas escondidas aos demais. Assim foi também junto ao túmulo na corrida pascal de Pedro e o discípulo amado, como se descreve no capítulo 20 do mesmo João. Pedro não percebeu a Ressurreição e o Cristo vivo. O discípulo amado viu e acreditou. Ele vê com os olhos do amor.  

Sem a fé na Ressurreição o trabalho é estéril. Não pegam qualquer peixe. Ao amanhecer, com a palavra de Jesus, a barca fica cheia. A comunidade fica fecunda e a multidão, repetida várias vezes nos Evangelhos, acolhe Cristo e a vida. Dessa vez o trabalho apostólico deu frutos. Podemos esperar por eles. Também nós, somos agora convidados a lançar as nossas redes. 

Pedro pulou na água. A água e o oceano lembram o perigo e até a morte.  Lembram o mundo (aqui lembrado pelo mar da Galileia) e seus problemas e Pedro correu até Jesus. Perdeu o medo e enfrentou as dificuldades, como se espera de nós, hoje. É Jesus que motiva seu trabalho pastoral e nos dá forças para enfrentar os perigos e até a morte. E houve e há mártires tanto ontem como hoje.   

Jesus estava fritando peixes e tinha pão. No Novo Testamento, as refeições de Jesus ou com Jesus passam de 150. Comer juntos e partilhar, como na Missa, pode ser a oportunidade de fazer a descoberta de Jesus, como a fizeram os discípulos de Emaús. Saber partilhar a comida, como se falou na campanha de fraternidade deste ano: “Dai-lhes vós mesmo de comer”, é um gesto a ser repetido também hoje e pode levar à descoberta de Jesus vivo e Ressuscitado.   

Jesus pede para jogar a rede ao lado direito da barca. O lado direito simboliza as coisas boas e simbolicamente Jesus ocupa o lado direito do Pai no Céu, para nos defender como o advogado de defesa e Salvador. Em Mt 25, os justos estão ao lado direito, os condenados, ao lado esquerdo. No Calvário, o bom ladrão está ao lado direito e o mau ao lado esquerdo. E assim pela vida afora estar à direita e andar direito e ser defensor das pessoas e da vida. É ser o advogado de defesa. Vamos nos colocar ao lado direito e defender nossos irmãos que vivem na terra. Vamos largar as redes do lado direito e pegaremos 153 peixes grandes. Os zoólogos gregos falam que havia 153 espécies de peixes ou nações no mundo. Assim falamos de peixes ou pessoas de todas as nações ou todos os habitantes da terra. Todos devem ser convidados a entrar na barca da Igreja ou da salvação.  E a rede não se rompeu…  

Todos os povos ou nações precisam entrar na barca da salvação de Jesus ou entrar na Igreja e vencer o mar, símbolo do mal e da destruição. A pesca tem aqui uma conotação messiânica. Isto é: Cristo veio salvar a todos os gentios ou judeus, que são representados pelo 153 ou todas as nações. Assim, a pastoral vai se tornando mundial e deve se dirigir a todas as pessoas.   

Pedro estava nu e vestiu sua roupa. O que é estar nu, como no caso de Adão e Eva? Lembra o medo e a fuga e fugimos do olhar de Deus sobre nós e nossas vidas. Temos muitos medos e fugimos ou nos acomodamos.  Colocar as vestes, pode nos dizer que Pedro coloca as vestes do serviço eclesial. Jesus colocou um avental para lavar os pés. Os paramentos da liturgia são então aventais para servir.  

Pescaram a noite inteira e nada de peixes. Outros evangelistas nos acrescentam: Não pescamos, mas, porque JESUS pediu, lançamos as redes. Assim nos aventuramos em nosso trabalho, mesmo quando percebemos os fracassos. Às vezes nada conseguimos, mas experimentamos de novo e pode vir a grande pesca e ação espantosa de Deus em nosso trabalho e no trabalho da Igreja.  

PERGUNTAS: 

  1. Procuro lançar as minhas redes apostólicas, apesar dos fracassos? 
  1. Como descubro o Ressuscitado em meu trabalho no dia a dia? 
  1. Como me uno aos outros “apóstolos” no trabalho em grupo dentro da Igreja?