Crer em Deus no mundo de hoje

P. Eugênio Mezzomo, CP.

Texto: Mt 16,1-20

Objetivo: Alimentar a fé no mundo plural de hoje.
Vou me inspirar em Alfonso García Rubio (O Humano Integrado) quando fala da dificuldade de crer dentro da cultura pós-moderna de hoje. Estamos saindo da cultura grega que marcou a doutrina da Igreja, sobretudo com os conceitos e métodos de Platão e Aristóteles. Os gregos tinham uma visão determinista do mundo. O homem era levado pela natureza. A pessoa, não tendo a liberdade, não podia decidir-se a crer. A fé é um anto livre. Sem a decisão pessoal, não há fé. Para os gregos, valia mais alma ou espírito. O corpo era cadeia da alma e devia ser amassado.


O deus (ou deuses) grego não dá lugar ao amor e João declara que Deus é amor. A natureza engole a pessoa e é inalterável. Nós acreditamos que podemos melhorar a natureza, através da liberdade que damos às pessoas e podemos ser criativos. Mas, a cultura de hoje é marcada pelo narcisismo (individualismo) e consumismo.
Há dificuldades para recompor nossa fé. Rubio descreve estas dificuldades começando com a astrofísica. Os cientistas dão outro sentido à criação do mundo. Falam da grandeza do universo. São bilhões de estrelas e existem a bilhões de anos. Parece que a Bíblia teria dificuldade de ter lugar num mundo determinado pela ciência. A ciência vê o mundo de forma “fixista”. Mesmo que muitos acreditem na evolução humana e do universo.
Fala também fala da física, onde tudo é determinado por leis. Mas chega à “física quântica” onde se podem aceitar mudanças atômicas. Na questão da biologia, onde se chegou ao DNA e ao determinismo das células e moléculas, o sistema vivo é visto sem Deus. E o cérebro tem dificuldades de ser fonte de autoconsciência. Dificulta-se o processo do conhecimento para tornar o homem um ser pensante e crente.
Por fim, fala da psicanálise, começando com Freud, que era ateu. A psicanálise tende a explicar o homem, seu agir e seus problemas com teorias e métodos variáveis e muitas vezes criticados.
Nasce então a necessidade de nos adaptar-nos no mundo de hoje, para nele dar lugar a Deus. Além do presente, o crente deve olhar para o passado e para o futuro. Eles ajudam a encontrar o “estético, emocional e o lúdico”. Além disso, para se viver em sociedade deve ser levada em conta a “moral” para cumprir o dever, que às vezes vem acompanhada pela renúncia, abnegação e sacrifício. Assim, o relativismo moral deve ser acompanhado por alguns princípios. Pode haver um “individualismo responsável”.
É indispensável, porém repensar a teologia da criação, através de uma mudança da fé num Deus criador. Deus deve ser considerado como aquele que ama e é amor. Um Deus que respeita a liberdade do outro. Um Deus pessoal e que se relaciona mesmo dentro das pessoas da Trindade. Um Deus que entrou na humanidade e se fez pequeno para comunicar-se (Fl 2,6-11). Repensar o Deus como “causalidade” e que é fundamento de tudo, mas de forma nova. Mas, o intervencionismo exagerado de Deus pode ser reduzido. Devemos crer que temos uma liberdade criativa nas relações com Deus, com o próximo, conosco mesmos e com o mundo e o universo. Não devemos esquecer que somos pessoas livres e podemos crer em Deus
O acaso e a necessidade existem, mas, não em tudo e Deus está por trás dos acontecimentos. Uma visão holística da realidade, sabendo olhar de um modo novo que admita Deus por trás de tudo. Mas, sabendo que a fé depende da nossa liberdade e nossa aceitação. Se tivermos a coragem, creiamos. Temos a ousadia de aceitar o amor de Deus. Acolher o amor de Deus implica na construção do REINO. Sem encontrar sentido em Deus, será difícil salvar a religião. Que sentido tem Deus para a sua vida?
Cristo, ao despedir-se dos apóstolos, falou: “Não tenhais medo” Estarei convosco até o fim do mundo (Mt 28,10). É preciso caminhar no processo de uma enculturação real no mundo da ciência e da cultura atuais para não cairmos foram do mundo.
Ao reler o texto bíblico proposto, sugiro que se coloque primeiro dentro na cena montada pelo Evangelho. Os apóstolos e você estão na mesma situação. Eles percebem a dificuldade de descobrir a verdadeira identidade de Jesus. É comparado aos profetas Jeremias, Elias e João Batista. Todos sofreram perseguições. Foram pessoas que defenderam o povo e procuraram revelar um Deus a favor do povo, que se relaciona e ama.
Pedro, fala que Ele é o Messias. Talvez pouco entenda, como eu hoje. Vai negar Jesus e foi chamado de Satanás. Aliás, os Evangelhos tendem a esconder a identidade de Jesus pelo chamado “segredo messiânico”. Parece que o demônio é que sabe mais, quando se fala da cura dos endemoninhados.
Feito isso, procure se colocar na cultura do mundo de hoje e tentar perceber o lugar de Jesus, o lugar de Deus na vida dos homens de hoje e na sua vida particular. Não se espante com as dificuldades. Deus permanece um grande mistério, porque ultrapassa a nossa capacidade de entender. Mas, perceba se vale a pena se arriscar sem entender quase nada.

PERGUNTAS:
Qual é seu conceito atual de Deus?
Que sentido você encontra para sua vida crendo em Deus?
Como você sente que Jesus o acompanha e está presente em sua vida?