Se alguém quiser me seguir

P. Eugênio Mezzomo, CP

Texto: Lc 9, 22-26.
Objetivo: Descobrir a alegria de ser de Jesus.
Como este ano é o ano de Lucas, sirvo-me dele para contornar a tristeza e o desânimo no seguimento de Cristo. Nos tempos de Paulo da Cruz, reinava uma certa tristeza ao se falar do seguimento de Cristo. A cor preta ou de luto denota essa tristeza e nossos santos foram pintados com cara de tristeza e dor, com fundos escuros. A cruz foi tida como bandeira de tristeza, quando deveria ser justamente o contrário.
Este texto de Lucas nos deveria conduzir à verdadeira alegria que nasce do sentido da fé e do seguimento de Cristo. Veja Fil 4,4: “Alegrai-vos sempre no Senhor. Repito, Alegrai-vos.” Já dizia Viktor E. Franckl, quando falava do sentido da Vida no livro Em Busca de sentido. Sem sentido, não há motivo para viver. O texto proposto, portanto, nos convida a uma liberdade total diante da existência terrena, mas partindo do sentido da vida em Cristo. Uma liberdade que nos leva a sair do desespero da vida, porque se abre para um sentido para o futuro e para toda a existência. Jesus nos convida a reconciliar-nos com a vida, saindo do narcisismo e da ideia de que esta vida não tem sentido nem futuro.
Outras vezes ficamos parados diante de ideias ou etiquetas que fazem de Jesus alguém muito doce e que satisfaz todos os nossos desejos e é sempre simpático com as pessoas humanas. Outras vezes fazemos de Jesus um ser enfadonho e que vigia todas as nossas ações para nos julgar e condenar. Precisamos nos encantar com as surpresas sempre novas e com o modo de Jesus nos convidar a segui-lo em toda e qualquer circunstância, mas por encantamento com a vida que nasce Dele.
Para isso, Jesus nos convida a renunciar a nós mesmos. Mas, o que devemos renunciar? O que devemos abandonar? Às Vezes, como nos pedem os votos da vida consagrada, pensamos em abandonar os bens materiais, as mundanidades e até se chegou, entre os monges, de abandonar toda a convivialidade e ficar afastados do mundo e das pessoas. Isso pode nos levar a um desprezo de nós mesmos e nos faz descer ao fundo do poço do sem sentido em vez de mergulhar no “mar imenso do amor de Deus” (Paulo da Cruz).
Cristo nos leva a uma transcendência de nós mesmos e nos agarrar ao sentido infinito de Deus, que nos levará à verdadeira alegria. Descobrimos a nova imagem que nasce de Deus e do seguimento de Jesus. Não nos congelamos na ideia de homem e de Deus, que recebemos pela tradição ou cultura, nem nos entregamos simplesmente à dor e ao sofrimento. Cairíamos numa insatisfação desastrosa e destruidora, se não descobríssemos a alegria de ser de Jesus.
Se imaginamos esta “negação dessa ideia de nós mesmos”, pensada como um sacrifício triste e desesperador, não teremos força de seguir Cristo e nos converter. Cairíamos no desânimo. O desespero acontece quando nos agarramos simplesmente a uma ideia de perfeição e de vida espiritual, sem nos deixar arrastar pela grandeza do amor de Deus. Então faltarão forças, porque não sentimos a atração e a força do amor de Deus. O mundo inteiro se tornará uma decepção, porque imaginamos que Jesus quer simplesmente nos ver sofrendo.
Ao contrário, os seguidores de Cristo se enchem de esperança e alegria ao pensar que o seguimento de Cristo nos liberta de nossas prisões e nos leva a paragens infinitas de uma nova vida e de um novo modo de ser e ser feliz. É desfazer-se daquilo que nos aprisiona e não leva a nada. É preciso superar os disfarces e os enganos de um mundo pesado e que oprime sem levar a nada. Pelo contrário, deixamos tudo de lado como as roupas velhas e as ilusões que podem nos aprisionar. E entramos com Jesus na construção do Reino de Deus e sua justiça, onde haverá vida e salvação para todos. A causa é grande demais para nos preocuparmos com aquilo que deixamos para trás para seguir os passos de Jesus.
Dizia Spinoza: “Toda a nossa felicidade e a nossa miséria estão num único ponto: a que tipo de objeto estamos apegados por amor?” Por isso, seguir Jesus é abrir as janelas da alma, que vai apodrecendo na filosofia do mundo, para mergulharmos na alegria que nasce do futuro em Cristo e no seu seguimento. Não é apenas sadismo ou masoquismo, porque não procuramos a dor pela dor, a cruz pela cruz, mas, nos agarramos a Cristo e o seguimos até a cruz, quando for necessário, para encontrar a verdadeira vida. A vida já tem suas dores. Por isso não queremos ser simplesmente ascetas ou sofredores, mas agarrar-nos ao Cristo libertador, que nos enche de esperança e de vida e nos faz superar nossas dificuldades e apegos.
Se observarmos as atitudes de Cristo, percebemos que Ele também se preocupa com curas, alegria, festa e até um bom vinho nas bodas de Caná. Ele quer novos valores, alegria, paz e vida. Nas Bem aventuranças, Jesus proclama felizes os pobres e os caluniados e que sofrem por causa Dele e do Evangelho. Ele nos quer tirar da ilusão de encontrar a verdadeira felicidade em coisas passageiras e ilusões que se desvanecem e apodrecem. Muitos buscam alegria em drogas, bebidas e até mesmo se contentam com a beleza física ou com a abundância do dinheiro etc. Tudo isso passa. Seguir Cristo é inebriar-se de água viva, como Jesus disse á Samaritana (Jo 4).
Não queremos a santificação da pobreza e da tristeza ou mesmo do sofrimento. Jesus diz: “Vinde a mim vós todos que estais cansados e sobrecarregados e eu vos aliviarei”. Queremos experimentar a alegria de tudo dar, pois, “há mais alegria em dar do em receber” (At 20,35). Não façamos como o jovem rico (Mt 19), que ficou triste e não quis seguir a Cristo, porque estava apegado a seus bens. Não descobriu a alegria de dar para ser feliz e fazer os outros felizes.
Leia o texto colocando-se na cena e “veja” o olhar de Cristo que o deseja e o quer feliz.
PERGUNTAS:
Como o seguimento de Cristo o deixa feliz?
Você tem vontade de descobrir que dar o faz mais feliz que receber?
Você é alegre e distribui alegria ou faz do seguimento de Jesus uma tristeza?