Nossa Senhora da Congregação

P. Eugênio Mezzomo, CP.

Sentir-se “olhado” é sentir-se amado, agraciado. Algo maravilhoso na experiência amorosa: Olhar e ser olhado é também a experiência dos namorados. E os passionistas pregam que Deus nos ama, sobretudo na cruz. Deixar-se olhar por Deus ou deixar-se amar é uma das aventuras mais interessantes ara a criatura humana.

Antes de comentar o texto, percorro a figura de Maria na Congregação Passionista. Na carta de Paulo da Cruz ao bispo Francesco Arborio Gattinara (ano de 1721) escreve que se sentiu muito tocado ao ver (olhar) a ermida de Nossa Senhora Del Gazzo, no monte Sestri, perto de Gênova. Ele diz que teve a iluminação de colocar um hábito, ficar descalço, viver na solidão e penitência. Por isso, a primeira inspiração para fundar a Congregação partiria de Nossa Senhora. Ao mesmo bispo, escreve também sobre o desejo de reunir companheiros para pregar o santo temor (=amor) de Deus.

Ao sair da igreja dos capuchinhos, se pudéssemos acreditar em Rosa Calabrese, ele teria visto Nossa Senhora com o hábito passionista. Mas, Paulo escreveu ao mesmo bispo, que foi ele que se sentiu vestido com o hábito e com o nome de Jesus no peito, não Nossa Senhora. No ano de 1721, Paulo teria se dirigido, em Roma, ao quadro de nossa Senhora “Salus Populi Romani” (saúde do povo romano), onde teria feito o voto da Paixão, sob o olhar dela. O relato é da mesma Agnese, que nem sempre é acreditada.

Viveu depois em duas ermidas dedicadas a Nossa Senhora: Nossa Senhora da corrente e Civita. Em 1722 e 1723, viveu na ermida da Anunciação, no monte Argentário, onde deve ter se enriquecido desta mensagem de Maria.

As 7 dores de Maria mereceram lugar especial, como também a Natividade de Maria.  Em outubro celebrava-se a maternidade de Maria. Mas, para Paulo, a festa mais celebrada de Maria era a Assunção, sendo o milagre mais importante da Paixão e Morte e Ressureição de Jesus. Era o seu efeito mais eficaz. Paulo se preparava para esta festa com 40 dias de abstinência de fruta, rezando os 15 mistérios do rosário e outras mortificações. Na novena, fazia grande jejum. Mas o costume do fundador não se tornou obrigatório na Congregação. Foi dito que os religiosos deveriam, nessa quarentena, procurar ser mais santos, observando melhor as Regras e imitando as virtudes de Maria. O desejo de todos era ir para o céu com Maria, quando chegasse a hora.

Maria era a verdadeira superiora do convento. Ensinava-se que o religioso, ao sair do quarto, pedisse licença para Maria, perguntando-lhe se havia motivo suficiente para abandonar a solidão do quarto. Todos os dias, deveriam praticar algum ato de virtude em sua honra, para obter luz e a graça de cumprir melhor os trabalhos pastorais e ministérios.

Cinco dos doze conventos, que Paulo fundou, tinham como padroeira Nossa Senhora. Os escritos de Paulo mostram que sua devoção a Maria era vista como sendo ligada a Jesus, “a quem deu a carne”, e a Trindade. Gostava de Nossa Senhora de pé diante do Crucificado (Jo 19, 25-27). Maria é vista como filha do Pai, mãe da Palavra e esposa do Espírito Santo. Rezava o rosário e tinha dois terços na cintura. Os noviços deveriam rezar um terço pelos corredores do convento, carregando uma imagem de Maria e muitos atos eram distribuídos, sobretudo nos sábados, como “flores de Maria”.

As festas de Maria eram importantes no desenrolar litúrgico do Ano. O motivo era que ela deveria se tornar o modelo que devemos viver para ser bons religiosos passionistas. O Natal, para Paulo, lembrava muito bem Maria, porque foi ela a escolhida para puxar Jesus, puxar Deus para dentro do mundo. O religioso deveria fazer o mesmo. Receber Jesus no coração ou no útero e deixar que Jesus crescesse e aparecesse, para chegar a dá-lo à luz na pregação e na vida prática. Assim, as festas marianas pretendem fazer nascer Jesus dentro do mundo.

Tomás Struzzieri introduziu a devoção a Nossa Senhora da Esperança, que tem o menino Jesus nos braços com uma pequena cruz nas mãos dele. Esse quadro estava em todos os quartos dos religiosos. Acho muito significativo esse título no momento atual, pois vemos a Congregação em franca diminuição e não sabemos o futuro. Mais do que nunca necessitamos de esperança. O papa Bento XVI escreveu a encíclica “Salvos pela Esperança” (Spe Salvi) e fala da importância dessa virtude em nossa caminhada eclesial e pessoal.

Finalmente, surgiu também Nossa Senhora passionista. A ideia do fundador do Instituto secular das missionárias da Paixão, P. Generoso Privitera, era vestir Nossa senhora com o hábito passionista, mas, não obteve a aprovação. No entanto colocou nosso distintivo no peito dela e mostrou que ela era a primeira passionista e o exemplo de religioso.

O texto proposto, o Magnificat de Maria, diz muito para mim. Maria se sente “olhada” e amada por Deus. Esse olhar de Deus sobre ela a tornou a mulher mais feliz do mundo. Agora todos vão chamá-la de bendita, porque Deus olhou para ela, apesar de sua pequenez e pobreza. Ela apresenta um Deus que olha para nós e nos ama. É um Deus que não apenas olha, mas age e faz. Levanta os pobres e abaixa os ricos, olha para quem não tem comida e o sacia, enquanto os que tem demais abaixarão. Sentir-se olhado e amado é a coisa mais bonita do mundo. Paulo da Cruz nos diz que esse amor é encontrado sobretudo na Paixão. É um olhar que se torna entrega de vida no maior amor possível. É algo central na vida e na vida cristã.

Em Curitiba, encontrei um rapaz que percorria dois mil quilômetros para se encontrar com a namorada. Eu lhe disse: você deve gostar muito desta moça. A resposta foi: Por esta mulher, vou até o fim do mundo. E, como nós passionistas, pregamos esse amor de Deus por nós, temos força para ir até o fim do mundo.

Os dogmas marianos, aplicados a nós, são muito interessantes. Maria, mãe de Deus, nos mostra que também a Igreja, e cada um é nós, pode ser mãe como Maria quando cuidamos, zelamos e ensinamos como ela. Somos virgens como Maria, quando ouvimos e sabermos receber e acolher.  A Igreja também é virgem quando acolhe, recebe e deixa frutificar a Palavra de Deus, os sacramentos e toda a graça.  Maria foi virgem por excelência e CHEIA DE GRAÇA porque soube receber as graças, a vida, Jesus.

A Imaculada Conceição mostra a luta contra o mal e o pecado. Debaixo dos pés da imagem há uma serpente. Nós também devemos lutar contra a serpente do pecado, pois ela é venenosa e pode nos matar. Pelo batismo, também nos livramos do “pecado original”, que hoje ninguém sabe o que é.

Ao rezar o texto, peço que “olhe e se deixe olhar” por Deus, por Maria, pelos outros e pelo mundo. Ame e deixe que o amem. Você ganhará força e irá até o fim do mundo.

  • Como você traduz sua devoção mariana na vida prática?
  • Como assume as atitudes de Maria manifestadas sobretudo nos dogmas marianos?
  • Você se dá conta da importância de Maria na Congregação?Texto: Lc 1, 46-49 – OLHOU PARA A HUMILHAÇÃO DE SUA SERVAOutro textos: Lc 1, 26-38; Jo 19, 25-27; Gl 4, 3-7.

Data da publicação: 19/11/2021