Relacionando-se com o Divino

P. Eugênio João Mezzomo, CP

Abba Pai – Texto: Rom 14-17.

Objetivo: Melhorar o conceito de Deus. A palavra pai não é desconhecida no Antigo Testamento e existe até nas religiões pagãs. Júpiter, pai dos deuses, significa Deus é pai dos deuses e dos homens. No entanto, o AT vê Deus mais como criador do que pai. Ele faz o homem de barro e assopra nele. A mulher vem da costela de Adão.

A ideia de Deus nem sempre é de compaixão e misericórdia. Na antiguidade, a ideia de pai e rei andavam juntas, muitas vezes deteriorando o significado positivo de pai. Freud em O Futuro de uma Ilusão, oferece um caráter infantil da figura paterna, tanto protetor como ameaçador diante de uma criança cheia de temor. É certo que a figura do pai pode nos induzir a uma ideia redutiva de Deus. Javé não gerou filhos, mas, criou. E o AT nos traz outras maravilhas, quase sempre reservadas aos israelitas. Espera obediência total a esse Deus. E Jesus falou de “meu Pai” e “vosso Pai “Sede perfeitos como vosso Pai celeste” (Mt 5,44). O NT traz ideias mais carinhosas e ternas de Deus. Ele é “misericordioso e compassivo” (Gl 2,13), mesmo com os pecadores e prostitutas. Pede até para amar os inimigos (Mt 5,44). Faz chover e faz sol até para os malvados. Pode-se confiar nele porque sabe quais sãos nossas necessidades (Lc 12,30). “Não temas, pequeno rebanho, porque foi do agrado do Pai dar-vos o Reino” (Lc 12,32). Deus olha sobretudo para os pequenos pobres, perseguidos e pecadores. Temos também a oração do Pai Nosso, na qual se pede para imitar o Deus que perdoa como nós perdoamos. As parábolas de Lc 15 são muito interessantes: A moeda perdida, a ovelha perdida e o filho pródigo. Ele se preocupa com o destino de todos. Jesus nunca chamou a Deus de rei, mas, anunciou a realização do Reino de Deus e sua justiça. O que me leva a escrever este texto é o conceito de Deus, que explico no meu livrinho Oração de Relacionamento. Nós acabamos nos relacionando com Deus de acordo com o conceito que fazemos dele. Até o Concílio Vaticano II, a fé eram mais uma adesão intelectual do que uma experiência de amor e de vida. A heresia era mais sobre doutrinas do que relacionamento de vida. Os últimos papas falaram muito sobre isso. João Paulo II escreveu Rico em Misericórdia. Bento XVI, Deus é caridade. E Francisco se especializou em falar sobre a misericórdia de Deus e a compaixão, proclamando até o ano da misericórdia. Se me sinto amado por Deus, fica fácil me entregar a Ele e ir até o fim do mundo com Ele, como me disse um rapaz: “Por essa mulher vou até o fim do mundo”. Releia então o texto proposto para meditar e procure perceber como Paulo nos quer introduzir na família de Deus. Em 1Cor 12 e Rm 12, Paulo nos quer explicar que estamos mergulhados em Deus, fazendo com Ele um só corpo. Mas, eu que fui educado e catequizado antes do Vaticano II. Acabei recebendo uma ideia cavalar e terrificante de Deus. Assisti a duas missões passionistas antes dos meus 10 anos. As palestrar giravam sobretudo sobre a morte, juízo, inferno e paraíso. Era para assustar. Dizem que os missionários no México faziam fogueiras e ativaram cachorros e gatos no fogo, para explicar o tremendo castigo do inferno. E éramos destinados ao inferno por qualquer pecado que hoje não é mais mortal. Falava-se muito dos pastorzinhos de Fátima, que teriam visto as pessoas caindo no inferno como as folhas das árvores no tempo do outono. A ideia de Deus era carregada de medo (temor de Deus). Só quando nos sentimos amados por Deus e pelas pessoas, vamos entender Deus. Porque Deus é amor. Quem não ama a Deus e ao próximo e até a si mesmo não entende a Deus, porque não entende o amor. Dizem que um prisioneiro sempre fugia. Quando encontrou um ambiente de amor e de acolhida, não escapou mais, mas foi atraído e se deixou seduzir. O profeta chegou a dizer: “Seduziste-me, Senhor” (Jr 1). No Magnificat, Maria disse que se tornara a mulher mais feliz e todos a chamariam de bem aventurada, porque sentiu o olhar de Deus. Ela se percebeu amada. Ela teve uma experiência de Deus e de um Deus que olha e que ama. Ela se deixa levar por atração (Documento de Aparecida) não pelo medo. O cristianismo é uma história de amor e não mero moralismo ou um conjunto de dogmas. Sugiro, portanto, que examine sua formação familiar e catequética. Talvez, a ideia que você tem de Deus não é tão interessante e não valha a pena prosseguir crendo e sendo cristão. Confesso que a minha formação me fez agir e me relacionar com Deus com medo de ir para o inferno. Os passionistas devem ser especialistas no amor. A Paixão de Jesus é a maior prova de amor. Ele deu sua vida por mim e por todos. Em Rm, Paulo se esforça em nos mostrar como Deus nos ama. Ele diz que dificilmente a gente morre para salvar um pecador e mau. Mas, Jesus nos deu a vida quando éramos ainda pecadores. Deixemo-nos amar por Deus e teremos força para ir até o fim do mundo. Feliz de você se ama e se deixa amar. Tem um caminho para viver e experimentar Deus. PERGUNTAS: Como foi a sua formação religiosa e catequética? Atualmente, seu conceito de Deus é de misericórdia e compaixão? Como você se relaciona com Ele?

Data de publicação: 19/11/2021