Por: Pe. Eugênio João Mezzomo, cp
Texto: 1Jo 4, 7-20.
Motivação: Descobrir o rosto de Deus.
Objetivo: Renovar nosso conceito de Deus
Relendo as “Confissões” de Santo Agostinho, percebemos que sua conversão vai acontecendo com a mudança que ele faz do conceito de Deus. Sua conversão se dá quando descobriu a beleza infinita de Deus: TARDE TE AMEI, BELEZA INFINITA. No livro “Duas cidades”, a celeste e terrestre, ele nos diz que na cidade terrestre não há amor e sim o temor. Para manter a ordem entre as pessoas, há exército, armas e bombas e ainda assim as pessoas brigam e se matam. Na cidade celeste, há amor. As pessoas não brigam e não há armas, porque as pessoas se querem bem e se ajudam. Não é preciso reprimir. O amor une e harmoniza as pessoas. Ele nos fala, portanto da “pastoral do temor”, que invadiu também a Igreja Católica. Surgem ameaças de fogo do inferno e castigos para manter a ordem e a organização.
Isso acontece também entre pessoas de hoje. Se eu tenho um mau conceito de um irmão, eu me afasto dele. Se amo, eu me aproximo. Na verdade, COMO PODEMOS NOS APROXIMAR DE QUEM TEMOS MEDO? E muitos de nossos antigos nos ensinaram que Deus era um grande castigador. Até no ato de contrição, que ainda rezo todos os dias, peço perdão a Deus A QUEM TENHO OFENDIDO, para não ser castigado neste mundo e no outro.
Paulo da cruz nos ensina que há lugares que nos ajudam a descobrir um rosto mais agradável para Deus: Como? Na Cruz, Deus nos dá a melhor prova de amor e devemos “mergulhar no mar imenso do amor de Deus”. Se há amor, tudo se torna mais fácil.
Na verdade, não precisa ter medo de Deus, como muitos nos ensinaram. Para muitos, Deus castiga e mata e apontam até para livros da Bíblia. Os amigos de Jó querem convencer Jó que é pecador porque “foi castigado!” pelo pecado que cometeu. Na verdade, o pecado não ofende a Deus, como foi ensinado em muitos catecismos, mas, faz mal para o homem. O pecado ofende a nós mesmos. O pecado é um mal que eu faço a mim mesmo. Não é preciso PAGAR, pelos pecados. Basta ver nas parábolas de Lc 15 ou da prostituta de Jo 8. Deus perdoa e basta. Deus se mostrou em benefício dos homens, não o contrário. A vontade de Deus não é destruir o homem, mas, tirar o melhor do que Ele colocou no ser humano.
O escrito de hoje visa nos ajudar a descobrir nosso conceito de Deus. QUEM É DEUS PARA MIM? Minha oração e meu relacionamento com Ele vai depender desse conceito. Se Deus é misericórdia infinita, será fácil me envolver com Ele e com Ele encaminhar. Se o amor Dele me alcançou, será fácil eliminar o medo e avançar atraídos pela alegria de ser amados.
Para os judeus, a lei era sagrada. Para Jesus, o sagrado é o homem, porque ele se fez carne e habitou entre nós. Ele veio por amor e para nos atrair pelo amor. Conhecemos que ele nos ama porque deu a vida por nós. Assim devemos dar a nossa vida pelos outros (Jo 3, 16). Em Rm 8, Paulo afirma que se temos a certeza do amor de Deus, já não há mais medo de nada, seja de altura, de profundidade etc.
Seguir Cristo na fé é como um casamento, onde as pessoas se entregam e fazem muitas coisas sem sentir o peso e com alegria. Assim se dá também o “filho pródigo”, que volta para casa e “não paga” nada do que fez errado. Mas, retorna ao agir da família, aos “mandamentos da família” para conviver no amor com o Pai. Deverá viver as leis da família por amor. Por amor e não por medo. O Pai o acolhe e não castiga, mas, espera uma resposta ativa do filho.
Em Mt 16, Jesus fala em segui-lo. É um seguimento não de ameaças e medo, mas na coragem de dar a vida como Ele, mas, por amor. Os discípulos devem ir atrás de Cristo com alegria. Em João, fica claro isso quando Jesus diz: “Quem me segue não anda nas trevas (no pecado), mas terá a luz da vida (vida de acordo com a virtude e os mandamentos). Tiago, em sua carta, nos diz que a fé se prova cumprindo a lei. Mas isso não é feito pelo medo, mas porque “o casamento” com Jesus nos faz viver com alegria e gozar das delícias do Amado. No final do Evangelho de Jo (Jo 21, 19), depois de Jesus fazer três vezes a pergunta se ele O amava, Jesus diz a Pedro: “Segue-me”. Não há ameaças ou medo. É seguimento.
Alguém disse: “Diz-me como é o teu Deus e eu te direi como você reza”. Rezar é relacionar-se, é deixar-se levar e “casar” com Deus. Nossa conversão começa a se realizar quando nos despojamos da ideia de um Deus terrível e sádico. Infelizmente a “pastoral do medo” invadiu nossa catequese e se instituiu o medo do inferno em vez do amor de Deus. Não aprendemos a olhar o mundo, os outros e a nós mesmo com os olhos de Deus. Caminhamos mais pelo medo do que pelo amor.
Paulo diz também: “Quem acusará os eleitos de Deus? Se Deus nos perdoa, quem nos condenará? (Rm 8, 32-33). Como aconteceu com Santo Agostinho, precisamos descobrir o verdadeiro rosto de Deus. Jesus não pretende nos assustar com a “pastoral do medo”. Jesus quer atrair, não assustar.
Assim, para nós, os Passionistas, a cruz é o trono glorioso de Deus amante, não tribunal de pagamentos e de culpas. Jesus chega a ser rei do amor na cruz e ela se torna assim um símbolo de amor e não de temor. É o que descobriu Paulo da Cruz. Quem teria medo de alguém pregado na cruz? Quem tem medo deste “juiz” pregado na cruz, por amor?
Agora vejamos o que nos diz 1Jo 7-20, proposto no início. O amor vem de Deus e quem ama conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus. Deus é amor. (Por isso, a “pastoral do medo” é uma mentira). Deus nos ama e ninguém contempla a Deus senão no amor (v. 12). Deus é amor, não é ameaça e fonte de castigos. Aquele que permanece no amor permanece em Deus, não para não ser castigado, mas amado.
Diz o v. 17. A perfeição do amor é que tenhamos plena confiança no dia do julgamento. Não há temor no amor (v. 18). O amor lança fora o temor. O temor implica castigo. E aqui o texto desconhece isso, pelo contrário, nos diz que quem teme não chegou à perfeição do amor. E este amor se derrama também sobre o próximo e por isso sobre nós mesmos.
PERGUNTAS:
1- Qual é o conceito de Deus que invade agora a sua cabeça?
2- Como Agostinho, seria possível descobrir um melhor conceito de Deus?
3- Porque se apelou tanto para o medo em nossa catequese?